Com a fundação da UCCI (União das Cidades Capitais Ibero-Americanas) anunciei a intenção de criar a UCCLA (União das Cidades Capitais Luso-Afro-Americo-Asiáticas), ideia à qual desde logo aderiram o Rio de Janeiro, Maputo e Macau.
Esclareci então que, tratando-se de uma união de cidades capitais de países independentes, embora ligados pela adopção de uma mesma Língua e por séculos de história em comum, mas com opções políticas bem diferenciadas, cada uma escolheria o momento propício para formalizar a sua adesão à União, o que só deveria acontecer quando se sentisse perfeitamente identificada com os objectivos da nova organização.
Com efeito, a UCCLA visava a recuperação e o fortalecimento dos laços de solidariedade que, durante séculos, se tinham entretecido entre as cidades que a integravam, de forma a permitir a estruturação de um esforço comum, rumo ao desenvolvimento equilibrado de todas elas. Esta atitude de mútua abertura para a cooperação pressupunha a vontade de recuperar todos os valores culturais, históricos, de convívio e de respeito mútuo, que se haviam forjado no passado comum, e pressagiava a vontade de construir uma comunidade de povos livres e independentes, unidos pelo uso de uma mesma Língua e marcados por idênticos valores.
Ao pretender contribuir para que essa Comunidade de Nações, livres e solidárias, se constituísse como fruto da vontade comum da entreajuda generosa, competente e eficaz entre todos os seus membros, a UCCLA afirmava também que, por ser homogénea na Língua e nos sentimentos, pelas centenas de milhões de homens que já hoje envolvia, e por ser passível de uma enorme expansão demográfica, lhe estaria destinada uma função fulcral na definição e na conformação do mundo de amanhã. Por outras palavras, entendíamos que os povos de Língua portuguesa, por causa do seu eminente humanismo, estavam particularmente vocacionados para influenciarem as decisões das instâncias internacionais em que se decide o destino do mundo, no sentido da solidariedade e da paz.
Dito isto, entender-se-á que a adesão à UCCLA estava muito para lá da simples adesão a uma qualquer instituição de ajuda ao desenvolvimento, porque implicava a aceitação de um compromisso mútuo de forjar um destino comummente partilhado. Foi por isso que, anunciada a intenção de constituir a União a 10 de Junho de 1980, quando no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa assinámos com os delegados do Rio de Janeiro, o acordo de geminação entre as nossas duas cidades, só em 28 de Junho de 1985 ela veio a ser efectivamente constituída, por documento subscrito por Francisca Pereira, Nuno Kruz Abecasis, Alberto Massavanhame, Félix Gomes Monteiro, Laura Macedo, Gaspar Santos, Virgílio dos Santos e Carlos José de Amorim.
Algeos Ayres, em nome respectivamente, dascidades de Bissau, Lisboa, Maputo, Praia, Riode Janeiro, São Tomé e Macau, por ocasião dainauguração do centro Cultural instalado no interior do Monumento das Descobertas, em Belém.
Luanda e Cacheu só posteriormente vieram a aderir à UCCLA, bem como o tipo derelações francas e abertas, que ela gerou, sedeve, fundamentalmente, a esta liberdade deescolha do momento propício de adesão quecada um utilizou, isento de pressões oucoacções de qualquer espécie.
Verdadeira associação de cidades capitais livres, representantes de povos e nações livres, a UCCLA tem sido palco de frutuosa e intensa acção de intercâmbio e cooperação. Na formação de quadros e prestação de serviços; na implantação de equipamentos sociais; na transferência de tecnologias; na cedência de maquinarias para uso urbano; na ajuda ao procurement e ao intercâmbio empresarial multilateral, muito tem a UCCLA ajudado a criar condições e oportunidades concretas de desenvolvimento económico, social e cultural a cada um dos parceiros. Hoje, decorridos todos estes anos, é consolador verificar que esta união contribuiu decisivamente não só para alterar, quantitativamente e qualitativamente, as relações de Portugal com os restantes países irmãos, como também para gerar uma vontade colectiva para a Constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa».
NUNO KRUZ ABECASIS em «UCCLA – CONSOLIDAR AS RAÍZES DA LUSITANIDADE», inserido na obra: «Lisboa Minha Vida», uma edição do Círculo de Leitores por cortesia de Temas e Debates, publicada em Fevereiro de 2000.
Presidente da Comissão Executiva (1985 - 1989)