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UCCLA promoveu debate sobre térmitas
Portugal
| Angra do Heroísmo
Publicado em 06-09-2014
Os Paços do Concelho da cidade de Angra do Heroísmo, nos Açores, Portugal, foram o palco do IV Encontro Técnico da Rede de “Proteção e Valorização dos Centros Históricos”, que decorreu nos dias 4 e 5 de setembro, promovido pela UCCLA.
No discurso de abertura, o Secretário-Geral, Vítor Ramalho, agradecendo a presença das cidades e dos técnicos, reiterou a importância destes encontros das redes temáticas como plataforma de troca de experiências e de partilha de informações.
Dando conta que o último destes encontros teve lugar em Lisboa (no passado mês de dezembro), salientou o tema principal deste encontro, as térmitas e o caruncho das edificações não só nas obras de arte, mas também nos imóveis das cidades.
A cidade de Angra resistiu ao grande sismo que ocorreu em 1980, mantendo a traça da sua planta do século XV e a arquitetura dos seus monumentos e edifícios. As térmitas constituem uma praga ainda maior e pior para a cidade.
Para Vítor Ramalho “a defesa do património situa-se ao nível da memória colectiva e é a garantia do próprio futuro e da identidade” e tendo em conta que existe um vasto conjunto de “cidades da fala portuguesa, com centros históricos com referência mundial, como o caso de Angra do Heroísmo, a troca de experiências é fundamental para a preservação do património restaurado e sua conservação”.
Salientado a presença da M’ Banza Congo, destacou a candidatura desta a património da Unesco e da colaboração que mereceu por parte da UCCLA, quer ao nível do apoio à investigação arqueológica, mas também da própria candidatura, sublinhando ainda a presença de um representante da Unesco em Portugal neste encontro e disponibilização para a ajuda no processo de candidatura.
Vítor Ramalho falou, ainda, dos objetivos da UCCLA, destacando o Congresso Ibérico de Estacionamento e Mobilidade, promovido pela ANEPE (Associação Nacional de Empresas de Parques de Estacionamento - Membro Apoiante da UCCLA) como um evento importante para diversas cidades, como Luanda e Maputo. O Secretário-Geral enalteceu, ainda, a relação que a UCCLA tem vindo a fortalecer com a UCCI (União das Cidades Ibero-Americanas), assim como da homenagem que a UCCLA irá levar a cabo, no mês de outubro, aos ex-associados da Casa dos Estudantes do Império.
O presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses, afirmou que os 30 anos de Cidade Património Mundial foram alvo de um percurso complexo, pois com o sismo de 1980 a cidade foi marcada pela destruição de cerca de 80% dos seus edifícios e logo depois pela sua reconstrução.
O autarca referiu que os angrenses devem ter orgulho do trabalho realizado, pois o caminho seguido no pós 1980 foi o da reconstrução do património histórico edificado e não o da ruptura com o passado. “O que aconteceu mostra a sensatez daqueles que nos governavam, bem como dos nossos concidadãos que aceitaram as opções tomadas, uma vez que o trabalho realizado pelos angrenses, pela manutenção do seu património e pela sua cidade é meritório, pelo que devemos ter orgulho.”
Para o futuro da baixa Angrense, Álamo Meneses não tem dúvidas de que a escolha dos materiais e as opções arquitetónicas devem ser repensadas, afirmando que “temos constantemente de reanalisar e olhar para a evolução tecnológica e para o conhecimento que se vai obtendo de forma a controlarmos as diversas pragas.” "A autarquia tem um conjunto de medidas complementares às que o Governo Regional também tem. No caso concreto, temos a isenção de taxas de tudo o que tenha a ver com a luta contra as térmitas na vertente do controle de licenciamento de obras e temos nós próprios também uma ação direta nesta matéria e estamos a fazer um investimento na casa dos 150 mil euros, visando a introdução de novas técnicas de tratamento na cidade", frisou.
Para Álamo Meneses esse “é um desafio que a cidade enfrenta e é um desafio encontrarmos soluções tecnicamente adequadas e economicamente exequíveis que não tenham um impacto visual devastador para a cidade, pois não podemos substituir tudo o que é madeira por metal ou outro material, sob pena de descaracterizar aquilo que tanto trabalho deu a manter a seguir ao sismo de 80”.
Para o edil de Angra “o Património é algo vivo que tem de ser todos os dias repensado e por isso nunca chegaremos ao fim desse percurso. Deste modo, se temos uma infestação avassaladora no interior da cidade e se nesses edifícios existe uma arquitectura baseada na madeira, a vulnerabilidade é muito grande e os custos de tratamento e manutenção elevados”.
De acordo com estudos da Universidade dos Açores, seriam necessários 175 milhões de euros para reconstruir as estruturas danificadas atualmente nos Açores e 51 milhões apenas para as tratar, mas o número pode quadruplicar se não houver uma intervenção imediata.
Orlando Guerreiro – que falou sobre o tema "O Controlo das Térmitas Urbanas dos Açores - Perspectivas e Desafios para o Futuro" - defendeu que é preciso criar na região um gabinete específico e transversal, que reúna as preocupações com a habitação, o ambiente e, no caso de Angra do Heroísmo, que é cidade património mundial da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, também a cultura.
O investigador propôs mesmo um levantamento socioeconómico dos proprietários dos edifícios infestados, bem como um levantamento das características das habitações, considerando que seria um passo importante para a implementação de um plano de combate à praga.
A térmita da madeira seca foi identificada no centro histórico de Angra do Heroísmo, em 2004, mas os dados recentes indicam que ela se está a alastrar e que já foi introduzida noutras zonas da ilha.
No arquipélago dos Açores, apenas em três ilhas (Corvo, Flores e Graciosa) não foram identificadas térmitas até ao momento.
Ainda este ano está prevista a introdução de uma nova técnica de combate às térmitas na ilha Terceira, que recorre ao calor, mas Orlando Guerreiro salientou que nunca será possível erradicar totalmente a praga, mesmo utilizando redes, armadilhas e químicos depois da desinfestação, uma vez que basta a casa do lado estar infestada para que as térmitas se alastrem.
Por sua vez, Nazaré Tojal, da Fundação Ricardo Espírito Santo, que se debruçou no tema "Acção e Efeitos das Térmitas nas Obras de Arte", alertou para o "desinvestimento" recente na recuperação do património, defendendo uma conservação preventiva, para evitar que as obras de arte cheguem a um estado de degradação estrutural.
"O que há a fazer é uma conservação preventiva. Isso passa por uma manutenção adequada e constante e uma inspeção constante". A infestação por térmitas nem sempre é detetável a olho nu nas obras de arte, porque elas atuam no interior, por isso, a restauradora sublinhou a necessidade de um diagnóstico feito por profissionais e da criação de equipas multidisciplinares.
Sem dados concretos, sobre a infestação de térmitas nas obras de arte nos Açores, Nazaré Tojal lembrou que este problema está "um pouco por todo o lado", salientando que as peças em madeira são "apetecíveis" para esta e para outras pragas, como o caruncho.
PROGRAMA DO ENCONTRO
Dia 4 de Setembro
09H00 - Recepção aos participantes;
09H30 - Abertura pelo Secretário-Geral da UCCLA, Dr. Vítor Ramalho; presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Eng.º José Gabriel do Álamo de Meneses;
10H00 - Fundação Ricardo Espírito Santo Dra. Nazaré Tojal - "Acção e Efeitos das Térmitas nas Obras de Arte";
11H00 - Intervalo/cofee break;
12H00 - Angra do Heroísmo, Arqtº Luís Bettencourt - "Patrimonium - O Valor de uma Herança. Conhecer para Intervir”;
12H30 - Debate;
13H30 - Almoço;
15H00 - Angra do Heroísmo, Arqtº José Castro Parreira - “Morfologias do Futuro”;
15H30 - Mértola, Dr. Guilherme Machado - “A Recuperação Urbana do Centro; Histórico de Mértola”;
16H00 - Intervalo/coffe break;
16H30 - Brasília, Professor José Delvinei - “Património Cultural - Educar para Preservar”, Lançamento da Revista de Educação Patrimonial;
17H30 - Debate;
18H30 - Final dos trabalhos.
Dia 5 de Setembro
09H00 - Chegada dos participantes;
09H30 - Ribeira Grande de Santiago/Cidade Velha, Cabo Verde, Dr. Alcides de Pina - ”Aspectos fundamentais da malha urbana de Cidade Velha, primeiro núcleo habitacional construído por europeus e escravos africanos a sul do Trópico de Câncer – do séc. XV ao séc. XXI”;
10H00 - Assomada/Município de Santa Catarina/Santiago, Cabo Verde, Dr. Sidney Tavares Martins - “Plano de Salvaguarda do Centro Histórico de Assomada”;
10H30 - Intervalo/cofee break
11H00 - Luanda/Cazenga, Dr.ª Beatriz Vítor - ”Importância e Conservação do Património Histórico do Cazenga”;
11H30 - M’Banza Congo, Dr. José Joana André, Governador Provincial do Zaire - "Candidatura da Cidade de M’Banza Congo a Património da Humanidade / apresentação de painéis ilustrativos";
12H00 - Debate;
13H00 - Encerramento;
13H30 - Almoço;
15H00 - Visita guiada.