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UCCLA acolheu debate sobre “As mudanças sociopolíticas em curso em Angola”
Publicado em 31-05-2019
Um debate sobre “As mudanças sociopolíticas em curso em Angola” - a propósito da publicação da 2.ª edição da obra “Guerrilhas e Lutas Sociais. O MPLA perante si próprio (1960-1977)” da autoria de Jean-Michel Mabeko-Tali - decorreu na UCCLA, no dia 29 de maio.
O Secretário-Geral da UCCLA, Vitor Ramalho, fez a abertura da iniciativa saudando o trabalho da editora Claudia Peixoto por trazer esta obra que “procura retratar, com isenção, a história de um partido muito importante em Angola, senão mesmo determinante em toda a sua evolução, quer antes, quer depois, da Independência”. Destacando cada um dos intervenientes neste debate, Vitor Ramalho afirmou que são personalidades ricas na sua vivência e que transmitem um conhecimento profundo de Angola.
Moderado por Alberto Oliveira Pinto, o debate contou com a participação de Adolfo Maria, Manuel Videira e Jean-Michel Mabeko-Tali.
Alberto Oliveira Pinto saudando todos os presentes, começou por destacar Jean-Michel Mabeko-Tali que “além de um iminente historiador, com o qual eu muito aprendi, eu e outros colegas, é também de há uns anos a esta parte um amigo e mesmo um cúmplice”. “Eu considero este livro, pese embora o título, não apenas um trabalho condigno, exigente, científico sobre o percurso do MPLA, partido de estado, mas também é um trabalho sobre a história de Angola que pressupõe um substrato bem anterior à criação do MPLA e também bem posterior, não obstante aquela baliza cronológica - 1960-1977 - pelo que hoje o que trazemos é uma proposta de discussão, não apenas acerca do passado, sem dúvida, mas também acerca do presente ou das eventuais transformações ou mudanças que se estão a operar, hoje em dia, em Angola.”
Concluiu afirmando que, a propósito de ter traduzido “uma boa parte desta nova versão”, traduzir Jean-Michel Mabeko-Tali é “ter a sensação de estar no banco de uma sala de aula a ouvir um professor que me prende permanentemente”.
A “reedição deste livro faz-se num contexto nacional angolano em que há uma grande expectativa quanto às mudanças que foram sonhadas, décadas a fio, pelos angolanos e numa situação em que o Presidente João Lourenço tenta fazer formas que tem que se atacar quatro décadas de governação e, por isso, algumas dessas temáticas que eu abordei de certa maneira tocam esse aspeto do MPLA perante todo o seu percurso, perante os desafios e sobretudo o desafio enquanto partido de estado” iniciou Jean-Michel Mabeko-Tali.
De acordo com Jean-Michel é difícil “reformar uma estrutura que ficou tão afetada, como aquela que nós conhecemos em Angola e que penso deve-se dar tempo ao chefe de estado para tentar resolver os grandes problemas que se colocaram ao país durante essas quase quatro décadas”, mas a maior preocupação reside no espaço de debate, isto é, “fazer com que ninguém tenha medo de falar”.
“Sou um militante que viveu as quatro grandes crises que afetaram a história do MPLA” confessou Manuel Videira, explicando de seguida esses marcos da história de Angola, relatando momentos de guerra, fome e sacrifícios mas, apesar de tudo, mantem-se “numa situação de grande esperança em relação a esta nova crise. Estou convencido que o MPLA tem forças suficientes e experiência, tem um passado que lhe vai permitir resolver os problemas e voltar a ser um partido vitorioso e, dentro da sua definição inicial, o partido para a independência e para a democracia.”
Dando relevo à avançada idade que tem, juntamente, com Manuel Videira, Adolfo Maria destacou estar perante “duas gerações, uma mais espectadora e outra mais protagonista”.
Sobre a edição do livro do MPLA, revista e aumentada, Adolfo Maria afirmou que “mostra algo mudado no enfoque do autor em certos aspetos do processo angolano e alguns deles, digo já, não estou de acordo, mas isso é uma discussão privada, que depois pode ser pública”. Enalteceu a “corajosa investigação” de Jean-Michel uma vez que foi a “primeira obra que apareceu sobre as dissidências do MPLA e algumas das suas causas, nos anos 90, e foi uma pedrada no charco de escamoteações, mentiras também, da história contada oficialmente e, portanto, foi um instrumento de trabalho para a investigação histórica extraordinário. Hoje este livro continua a ser uma obra fundamental para se compreender o processo nacionalista e, em particular, o processo do MPLA.”
De acordo com Adolfo Maria o “autoritarismo” existia “em todos os movimentos de libertação” resultando numa “centralização excessiva do poder”, e que originou “um regime ditatorial que foi implantado com a independência. Esse regime acabou por favorecer a captura do estado por elementos da nomenclatura e a consequente cleptocracia”. Perante as mudanças ocorridas no país, “nasce uma consciência” dentro do MPLA de que este é o “momento histórico de se mudar” e as “esperanças ficam corporizadas na nova presidência do General João Lourenço”, que avançou com “várias medidas e com várias declarações programáticas no sentido de combater alguns dos males endémicos do país, um deles a corrupção, mas também fez uma abertura tremenda à sociedade civil e convocou-a para realmente partilhar do debate nacional.”
Para uma reconciliação nacional, Jean-Michel Mabeko-Tali afirmou que é importante uma “reabilitação política”.
Seguiu-se um período de perguntas e respostas, em que todos os intervenientes tomaram a palavra.
Estiveram presentes na cerimónia o Embaixador de Angola em Portugal, Carlos Fonseca, e o Cônsul-geral de Angola em Lisboa, Narciso Espírito Santo.