Decorreu, no dia 13 de agosto, no auditório da UCCLA, a apresentação e debate da obra “Matchundadi: Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau” de Joacine Katar Moreira, com a autora, o sociólogo Huco Monteiro e o jornalista e escritor Tony Tcheka.
A obra tem a chancela da Nimba Edições. O evento vou abrilhantado com um momento musical pelo músico guineense Guto Pires.
Sinopse:
«A cultura di matchundadi tem sido o motor da vida política guineense e sem a exacerbação e a institucionalização desta forma de masculinidade hegemónica, o sumo que tem regado a política guineense desapareceria. Entre tramas, traições, mortes, destituições, eleições, nomeações, transições políticas e golpes de Estado.»
[Joacine Katar Moreira]
Indispensável. Numa palavra seria esta a qualificação do livro de Joacine Katar Moreira que aqui se apresenta. E indispensável por múltiplas razões: porque permitirá à leitora e ao leitor aprender tanto como aprendi eu sobre a história contemporânea da Guiné-Bissau; porque desenvolve uma análise fina e sofisticada de como essa história foi e é, também, organizada por um dos processos primordiais de todas as sociedades humanas – o género; porque aponta claramente um dos elementos centrais, até aqui oculto de toda e qualquer análise sobre a realidade guineense, geradores da instabilidade e violência dos processos sociopolíticos da Guiné-Bissau – as formas de (hiper)masculinidade hegemónica que monopolizam a competição pelo poder estatal.
[Pedro Vasconcelos]
A cultura di matchundadi, hipermasculina, move-se dentro das estruturas do Estado, procurando fazer da matchundadi endémica uma matchundadi sistémica. Ou seja, procura institucionalizar um modus operandi e uma visão do mundo na qual impera a lei do mais forte, do mais poderoso e sobretudo do mais violento, ao mesmo tempo que esta hipermasculinidade traduz as características associadas aos homens e às masculinidades, tais como a redistribuição dos recursos, a protecção (e enriquecimento) do seu clã e a ameaça permanente aos adversários políticos. Assim, a cultura di matchundadi é altamente performativa mas com consequências que colidem com o ambiente democrático e a paz social, pois vive do mimetismo político e assenta no confronto constante, na demonstração de força de uns sobre outros.
[Joacine Katar Moreira]
Biografia da autora:
Joacine Katar Moreira é historiadora e política nascida na Guiné-Bissau em 1982. É Doutorada em Estudos Africanos, mestre em Estudos do Desenvolvimento e licenciada em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. Foi deputada independente do Parlamento Português durante a XIV Legislatura e candidata às eleições europeias em 2019. Feminista interseccional e anti-racista, as suas áreas de estudo são os Estudos de Género, a violência, a política e a descolonização. Mentora e fundadora do INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal, tem participado ativamente no debate público sobre o Colonialismo, a Escravatura e o Racismo. Como política a sua agenda pautou-se pelo alargamento dos Direitos Constitucionais, o combate ao racismo e à pobreza e pela luta contra as alterações climáticas.