Novo passo na ajuda a cidadãos portadores de albinismo

Novo passo na ajuda a cidadãos portadores de albinismo

Decorreu na sede da UCCLA, dia 21 de outubro, a assinatura do protocolo de colaboração entre a Associação Humanitária Memórias e Gentes (MeG) e a Missão Kanimambo (MK), com a finalidade de conferir uma maior operacionalidade às ações desenvolvidas em torno dos cidadãos portadores de albinismo.
 
      
 
 
Dar apoio às “vozes mudas” é o objetivo da Missão Kanimambo, como referiu Miguel Anacoreta Correia, presidente do Conselho de Fundadores da MK. 
Desde a sua criação a UCCLA tem apoiado as atividades da MK, um projeto composto por 11 voluntários. Anacoreta Correia explicou o que é o albinismo, as atitudes de discriminação sobre os albinos, a vida escondida, a hipersensibilidade à luz, a dificuldade em lerem e o facto de serem “objeto de uma exploração económica”. Anacoreta Correia falou das práticas de feitiçaria a que os albinos são alvo, onde “pedaços do corpo do albino ou o próprio albino, em certas condições, pode dar sorte, noutras condições pode dar azar e pedaços do corpo dão origem a medicamentos muito procurados pela feitiçaria”.  
 
      

De acordo com Anacoreta Correia passou-se da fase da simples discriminação para a fase da perseguição e do rapto, porque se tornou um “negócio” revelando que, de acordo com os dados que dispõe, “o corpo de um albino, com todos os seus órgãos, pode valer até 70 mil dólares". A “situação é de uma indignidade profunda e que julgo era bom às vezes mudarmos os alvos pela defesa dos direitos humanos, porque estas são as vozes silenciosas que nos chegam”, concluiu. 
 
    
 
 
A coordenadora do projeto, Margarida Ferreira Carneiro, falou da importância da MeG para a MK e no trabalho de sensibilização feito desde a criação do projeto. Apesar das dificuldades afirma que “somos um projeto de pessoas que gostam de trabalhar no terreno”. 
 
A ação da MK restringe-se, numa primeira fase, a Moçambique, podendo vir a desenvolver ações noutros países lusófonos, designadamente Mali. De acordo com a coordenadora já houve apoio a albinos na Guiné-Bissau, com o envio de centenas de protetores solares.
 
Até ao momento, foram doados, por algumas instituições, mais de 3000 produtos, entre protetores solares e óculos de sol que são entregues, em mão, por voluntários. Em Moçambique o apoio é feito a 50 pessoas, entre crianças e adultos, nas regiões da Gorongosa, Maputo e Inharrime. A coordenadora adiantou que estão à “procura de um parceiro em Moçambique que acarinhe e que se responsabilize por ser a Missão Kanimambo em Moçambique”.
 
      
 
De acordo com Margarida Carneiro cerca de 114 pessoas albinas desapareceram do Centro e Norte de Moçambique, desde dezembro de 2014 até ao momento, segundo o relatório apresentado pela MK, em setembro, à ONU.
 
Para 2016 os objetivos passam pela “criação de fontes de receita através de um grupo de amigos, temos que consolidar o trabalho desenvolvido, queremos ampliar a rede de angariação e entregas, queremos envolver os profissionais clínicos para viabilizar uma estrutura de assistência clínica local”, assim como dar os primeiros passos na “procura da integração profissional das pessoas com albinismo” através da sensibilização e informação. 
 
Para Margarida Carneiro este protocolo é muito importante porque “celebramos os valores como entreajuda”, uma vez que a “solidariedade é a veia deste projeto que culminará na proteção de quem nos procura”.
 
António Maló de Abreu, presidente da Memórias e Gentes, agradecendo todo o apoio da UCCLA ao longo do tempo e a Anacoreta Correia, afirmou que este momento é muito importante por ser “uma causa de que nós gostamos muito e que acarinhamos muito e, sobretudo, é dinamizada por pessoas que nós sentimos que se dedicam a ela com muito afeto, carinho, entrega e paixão”. A MK é o “exemplo de dedicação às causas, de amor e de carinho”.  Para Maló de Abreu, que deu a conhecer o trabalho e projetos feitos pela ONGD, a MeG é uma espécie "incubadora de causas".
 
Vitor Ramalho, Secretário-Geral da UCCLA, recordando a sua infância em Angola e alguns momentos que o marcaram, enalteceu os valores da solidariedade e da memória. 
Salientou o trabalho desenvolvido pela UCCLA em causas humanitárias, como o “apoio solidário às vítimas do vulcão em Cabo Verde”, “o combate que fizemos ao dengue, na cidade da Praia, ou o combate à sida, em Moçambique”. “No caso dos albinos a situação é de uma enorme gravidade” e a MK tem aqui um papel fundamental.

 
Memórias e Gentes é uma ONGD e instituição de utilidade pública, com sede em Coimbra, que promove o desenvolvimento em Portugal na área da saúde, educação, social e ambiental mas, sobretudo, nos países de expressão lusófona.
 
A Missão Kanimambo é um projeto que visa mobilizar apoios para os cidadãos portadores de albinismo, em especial em Moçambique, onde se verificam atos de grande gravidade, incluindo raptos e assassinatos de albinos que ultimamente se têm agravado. A Missão  Kanimambo quer alargar a sua atividade, designadamente  no que se refere à assistência médica e formação profissional. 
 
O albinismo é uma anomalia genética caracterizada pela insuficiência de melanina, substância responsável pela coloração da pele, cabelos e olhos. Está presente em todas as raças e para que uma pessoa tenha esta condição os dois progenitores têm de ser portadores do gene. Pela ausência de melanina, as pessoas com albinismo possuem um risco elevado de contração de doenças cancerígenas e problemas oftalmológicos.
 
 
Publicado em 22-10-2015