O cineasta português Manoel de Oliveira morreu esta madrugada, dia 2 de abril, aos 106 anos. A UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa) presta aqui a sua homenagem ao mestre do cinema.
Manoel Cândido Pinto de Oliveira nasceu no Porto, a 11 de Dezembro de 1908, foi o mais velho realizador do mundo em atividade e o mais premiado realizador português. O mestre trabalhou até aos últimos dias. Fez 47 filmes em 90 anos de carreira.
Aos 20 anos começou a frequentar os meios do cinema. Em 1928 matriculou-se na Escola de Atores de Cinema fundada no Porto pelo realizador italiano Rino Lupo, e faz uma pequena figuração no seu filme Fátima Milagrosa.
No ano seguinte, com o seu amigo Manuel Mendes, começou a registar numa pequena câmara Kinamo o dia-a-dia dos trabalhadores nas margens do rio Douro, transpondo para o cenário da Ribeira portuense aquilo que vira o alemão Walter Ruttmann fazer com Berlim, Sinfonia de uma Capital (1927). Desta experiência resultou Douro, Faina Fluvial, montado à pressa na própria casa do jovem cineasta para ser estreado, pela mão de António Lopes Ribeiro, em 1931, em Lisboa.
Depois de uma notada presença ao lado de Vasco Santana, António Silva e Beatriz Costa em A Canção de Lisboa (1933), o filme de Cottinelli Telmo que inaugurou a época de ouro da comédia portuguesa – “mas nunca fui lá grande ator”, confidenciou mais tarde –, aventurou-se na longa-metragem com Aniki-Bóbó (1942). É a adaptação de um conto do seu amigo Rodrigues de Freitas, Meninos Milionários, numa fábula sobre o universo infantil (e a dimensão adulta que ele já encerra) de novo encenada nas margens do Douro. A receção ao filme voltou a ser distante, e Aniki-Bóbó só foi verdadeiramente redescoberto mais tarde, com a sua passagem na televisão e após a menção honrosa conquistada num encontro de cinema para jovens em Cannes, em 1961.
Nos anos subsequentes a Aniki-Bóbó e durante cerca de duas décadas, viu-se impedido de concretizar os seus sucessivos projetos cinematográficos, entre os Os Gigantes do Douro (1934) que, a seguir a Douro, Faina Fluvial, se propunha ir mais longe, às raízes da vida árdua dos trabalhadores das vinhas naquela região do interior do país, e Angélica (1952), que só viria a concretizar mais de meio século depois.
Pelo meio, realizou algumas curtas-metragens para os amigos, gere a empresa industrial herdada do pai e dedicou-se ao cultivo da vinha no Douro, na sua quinta e de sua mulher Maria Isabel Carvalhais, com quem casa em 1940.
Ao longo de toda a sua vida recebeu diversos prémios e galardões, como Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1980), Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1988), Prémio Europa David Mourão-Ferreira (2006), Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes (2007), Prémio Mundial do Humanismo (2008), Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2008), Prémio de prestígio e de homenagem pelo trabalho que realizou nos XIV Globos de Ouro (2009), Medalha de Conhecimento e Mérito do Instituto Politécnico de Lisboa (2013), Grande Oficial da Legião de Honra, comenda distinguida pelo governo da França à personalidades influentes no cenário global ligadas ao país, pelo presidente François Hollande (2014).
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