O livro “Casa dos Estudantes do Império - Subsídios para a História do seu período mais decisivo (1953 a 1961)” de Helder Martins foi lançado no dia 12 de julho, na UCCLA. A apresentação do livro contou com as intervenções de Zeferino Coelho, Filipe Matusse, Maria José Leal, Embaixador José Augusto Duarte, Secretário-Geral da UCCLA, Vítor Ramalho, e do autor.
O percurso de vida do autor foi relatado por Filipe Matusse - médico internista, escritor, membro fundador e atual residente da AMEAM (Associação dos Médicos Escritores e Artistas de Moçambique) - para quem Helder Martins é o “personagem que esteve na crista da onda do movimento libertador, em África e aqui em Portugal também, contra o colonial fascismo”. O livro agora lançado “mostra como ele foi capaz de identificar como, por uma causa, tem que se fazer de tudo um pouco, não importa os caminhos, não importa as dificuldades“.
Maria José Leal - ortopedista infantil, escritora e artista plástica, presidente da UMEAL (União dos Médicos Escritores e Artistas Lusófonos) e vice-presidente da SOPEAM (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos) - deu a conhecer a UMEAL e SOPEAM de que Helder Martins é associado.
“Importante instrumento de trabalho para todos aqueles e aquelas que queiram conhecer a história da Casa dos Estudantes do Império” afirmou o Embaixador José Augusto Duarte - ex-Embaixador de Portugal em Moçambique, assessor diplomático do Presidente da República Portuguesa e Embaixador designado de Portugal na República Popular da China - que apresentou a obra, salientando que o autor “foi muito longe na investigação, foi muito longe na procura e pesquisa de fotografias de homens e mulheres que participaram nessa altura como estudantes na Casa”.
Para o Embaixador José Augusto Duarte trata-se de uma “obra de referência para quem queira investigar e pesquisar dados” sobre a casa, afirmando que o autor faz a “desmistificação de alguns aspetos” trazendo um “realismo e humanismo à volta de toda esta época, que me parece muito importante”, acrescentando que “ninguém nega que a Casa dos Estudantes do Império teve um papel muito importante no contributo que deu para o animar da formação política, ideológica e de valores de uma determinada geração, que passou por Portugal e que ingressou, depois, na luta contra a ditadura portuguesa e contra o regime colonial”.
Para Vítor Ramalho a “estrada que estamos a trilhar, da Casa dos Estudantes do Império aqui na UCCLA tem uma história indissociável da circunstância em que eu próprio me vi envolvido” para dar conta do seu percurso de vida, da experiência dos “mais vezes” que marcaram e contribuíram para não “afrouxar nunca”.
Para o Secretário-Geral a Casa dos Estudantes do Império constitui um “fator de identidade comum dos nossos povos de língua portuguesa” enaltecendo a reedição das publicações da CEI - da coleção Autores Ultramarinos - e as diversas iniciativas de homenagem à casa que a UCCLA tem organizado, desde 2014.
O responsável afirmou que o livro é uma importante ferramenta para as gerações mais novas, uma vez que “a luta contra a ditadura foi uma luta comum dos nossos povos. Não foi uma luta apenas dos povos colonizados”, acrescentando que o “livro traz ensinamentos muito grandes e sobretudo no período mais importante na Casa, que é de 53 a 61”.
Em “Casa dos Estudantes do Império” o autor utiliza as suas memórias de ativista da CEI e faz um importante trabalho de pesquisa histórica, que lhe permite documentar o seu texto com muitas fotos e digitalizações de documentos, nomeadamente, as digitalizações dos Diários do Governo com as decisões administrativas sobre a CEI.
Helder Martins revela, neste livro, a verdadeira data e circunstâncias da criação da CEI, bem como a complicada luta para pôr fim à 1.ª Comissão Administrativa. O autor põe, ainda, em evidência o trabalho realizado pelas 5 direções democraticamente eleitas pelos estudantes, entre fevereiro de 1957 e dezembro de 1960. A sua aturada pesquisa histórica permitiu-lhe afirmar que nunca houve nenhuma decisão administrativa a legalizar o encerramento da CEI.
Enaltecendo a importância que o livro representa para a história, desafiou as gerações mais novas a ler e perceber o quanto a CEI representou para todos os que a viveram e a frequentaram.
Marcaram presença o Embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Correia Monteiro, a Secretária-Executiva da CPLP, Maria do Carmo Silveira, o ex-primeiro-ministro de Moçambique, Mário Machungo, Luandino Vieira, Adolfo Maria, entre outras individualidades.
O lançamento do livro contou com dois momentos musicais pelas cantoras moçambicanas Isaley e Raquel.
O livro, que já se encontra disponível nas livrarias portuguesas com edição Caminho, estará também à venda em Moçambique a partir do dia 10 de julho e será, também, comercializado em Angola e Cabo Verde.
Sinopse:
“Para mim, esta é a verdadeira face humana da Casa. Uma Associação de jovens onde há de tudo, dos mal-humorados, aos eternos bem-dispostos, dos estudantes exemplares, aos maus estudantes, dos sócios dedicados e empenhados, aos pouco participativos, dos engajados politicamente, aos «apolíticos», dos simpáticos aos antipáticos. Nós eramos como outros jovens nos condicionalismos daquela época. Éramos humanos, com tudo o que há de grandeza na natureza humana e com tudo o que pode haver de mesquinhez. Transformarem-nos hoje em «heróis» é desumanizar-nos!”
(Helder Martins)
«Este livro de memórias duma época é o testemunho duma etapa histórica da vida de muitos estudantes, que das Colónias vinham para Portugal fazer os estudos superiores».
(in Prefácio, Fernando Vaz)
ISBN: 978-972-212-862-9 / 264 páginas / PVP C/ IVA 17,90€
Sobre o autor:
Helder Martins nasceu em Maputo, Moçambique. Em 1953 foi estudar Medicina em Lisboa, onde se formou em 1961. Foi um ativista estudantil na Comissão Pró-Associação da Faculdade de Medicina e na Casa dos Estudantes do Império, tendo tido um papel importante, primeiro, na luta para a cessação da 1.ª Comissão Administrativa - que foi imposta a esta Associação - e, depois, na sua gestão. Foi um militante ativo contra o fascismo e o colonialismo. Incorporado no serviço militar obrigatório na Marinha, desertou em novembro de 1961, tendo ido para Tanganica onde foi aceite na UDENAMO.
Foi um dos fundadores da FRELIMO. Participou na Luta de Libertação Nacional do seu país, tendo sido diretor dos Serviços de Saúde da FRELIMO. No imediato pós-Independência foi Ministro da Saúde durante 5 anos. Foi também funcionário sénior da Organização Mundial de Saúde, onde depois de reformado, participou e dirigiu vários comités de especialistas. Foi docente em Saúde Pública em vários países, em 3 continentes. É Doutor Honoris Causa em Ciências da Saúde e Educação. Tem várias condecorações e diplomas de mérito. Tem inúmeras publicações, tanto na área da Saúde Pública, como sobre temas históricos e sobre a interação entre Cultura e Saúde. Este é o seu sétimo livro.
Ouça aqui o lançamento do livro