Estreia de Yara Nakahanda Monteiro em poesia com o livro “Memórias. Aparições. Arritmias”, uma coletânea de poemas que percorre lembranças e relatos da vida da autora, tocando em temas menos visíveis ao olhar desatento e rotineiro do dia-a-dia, como os desafios da não paridade de género e negritude.
Sob a chancela da Companhia das Letras, a obra foi lançada em Lisboa a 21 de outubro de 2021, na Almedina Rato, contando com a apresentação de Ana Paula Tavares, historiadora e poetisa angolana, de Fernanda Almeida, jornalista, e a leitura de poemas por Flávia Gusmão. Dois meses mais tarde, a 13 de dezembro, a obra foi apresentada na livraria Bertrand do Alma Shopping por Catarina Martins e Doris Wieser, da Faculdade de Letras de Coimbra. Na ocasião foram ainda declamados poemas por Luciana Moreira, Rayssa Neves e Salvador Tito.
A obra está disponível em diversas livrarias e plataformas, entre elas, a Almedina, Bertrand, FNAC, Wook e Penguin Livros. Desde 20 de dezembro que a obra se encontra, igualmente, à venda em formato ebook.
Sinopse:
«Trineta da escravatura, bisneta da mestiçagem, neta da independência e filha da diáspora», Yara Nakahanda Monteiro (Huambo, 1979) estreia-se na poesia com um registo íntimo, tateando nas palavras a essência da condição feminina, da natureza, da identidade e da pertença, das memórias e dos sonhos.
Tranço o cabelo
dizem
quero parecer mais preta
Faço brushing
dizem
quero parecer mais branca
Na frente quente vinda do hemisfério sul
os caracóis secam desordenados
perguntam quero parecer de onde?
“Eu sou de onde estou.”
Os seus poemas transportam-nos para outros tempos e espaços: o da infância e adolescência na periferia de Lisboa; o das histórias da vida em Angola, contadas pela avó. Neles brotam desassossegos rabiscados em cadernos, esboçam-se trilhos imaginados a partir das grandes questões que definem quem somos.
A meio caminho, corre a vida de todos os dias e surge uma voz literária envolvente, encantatória, impossível de ignorar.
Qualquer ressonância com a realidade é poesia.
Críticas:
«Herdeira de uma tradição lírica (oral e erudita) que não renega, Yara Nakahanda Monteiro traz para a poesia angolana os grandes temas de um presente em convulsão. Eis uma nova voz que importa descobrir - e que veio para ficar.»
José Eduardo Agualusa
«A mão delicada tece as veias da vida como linhas de bordar e palavras na boca das mais velhas. Há meninas assim: ficam sentadas na esquina dos dias só para amansar os ventos, cuidar das chuvas e rodar as flores no sentido do sol. Esperam. A cidade cede a mil noites de calor e insetos sem o sono da fartura nem a quietude dos pássaros. As mulheres preparam o milho do dia seguinte e calam a água e as sementes do riso. Não dormem. Esperam. Entre grito e silêncio, a voz das mulheres gravada na memória da cidade e há tanto tempo esquecida surge assim nestas aparições. Yara Monteiro juntou, deu a volta e escreveu. Nada do que aqui está é simples. Tudo tem corpo e vida e está purificado pelo fogo.»
Ana Paula Tavares
(Fonte da Sinopse e Críticas)
Biografia:
Yara Nakahanda Monteiro nasceu em Angola, na província do Huambo, em 1979, e cresceu na periferia de Lisboa. Estudou Gestão de Recursos Humanos, área em que trabalhou durante quinze anos.
Tem colaborado na escrita de argumentos e guiões para artes audiovisuais. O seu primeiro romance, Essa Dama Bate Bué! (2018), aborda questões de identidade, pós-memória, género, colonialismo e diáspora. Memórias Aparições Arritmias é o seu primeiro livro de poesia.
(Fonte)