Lançamento da obra “Butá Kloson Ba Lônji - Cancioneiro da Música Popular São-tomense” de Luís Viegas na UCCLA
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Lançamento da obra “Butá Kloson Ba Lônji - Cancioneiro da Música Popular São-tomense” de Luís Viegas na UCCLA
Publicado em 10-05-2019
O surgimento dos grupos musicais de São Tomé e Príncipe, a sua mensagem política e a implicação que produziu no seio das relações sociais, são a base do livro “Butá Kloson Ba Lônji - Cancioneiro da Música Popular São-Tomense” da autoria do Embaixador de São Tomé em Portugal, Luís Viegas, apresentado no auditório da UCCLA, no dia 9 de maio.
 
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A obra foi apresentada pela professora Inocência Mata para quem a “tradição oral preserva-se através da transmissão de mensagens que se fazem de uma geração para outra, isto é, de avós, pais ou mais velhos para filhos, netos ou mais novos. Por outras palavras, mensagens pacientemente transmitidas de boca a ouvido, de mestre a discípulo ao longo dos séculos. Tais mensagens podem tomar forma de história, de contos, fábulas, provérbios, canções de músicas, etc..”, acrescentando que a “recolha de tradição oral tem um papel importante na preservação do passado, porque os textos da oralidade como são tanto as letras de canção, como o conto maravilhoso, tornam-se fontes históricas para a história coletiva.” 
 
O livro “ Butá Kloson Ba lônji-Cancioneiro da Música Popular São-tomense” é dedicado aos agrupamentos leonino e untues, reúne 17 canções do grupo Leonino e 110 do conjunto untue em crioulo forro da ilha de São Tomé traduzidas para português. 
 
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Para Inocência Mata, esta obra “não é apenas um trabalho de recolha, trata-se de um trabalho de reflexão, de crítica, de pesquisa, é um trabalho etnográfico. Este primeiro volume reúne não só uma recolha, o autor também se preocupou em dar um contexto sobre aos autores das letras, aos compositores, preocupou-se em identificar na sua maioria os criadores das canções, adicionando e desfragmentando o seu significado metafórico, a relação das canções. É um trabalho que permite entrever o percurso da sociedade são-tomense.”
 
Felício Mendes, cantor e compositor, a “música teve ligada ao ser humano, desempenha essencialmente três funções nas sociedades, a função social, cultural e educativa. Poderemos considerar que ela engloba aproximadamente três vertentes: a melodia, a harmonia e o ritmo. A melodia estimula a nossa memória, só com a melodia da música conseguimos identificar qual é a canção que estamos a ouvir. A harmonia integra os acordes dos instrumentos que condicionam o nosso estado emocional que nos conduz a um sentimento de alegria ou tristeza. O ritmo, por seu lado traduz a velocidade, tem um batimento como o nosso batimento cardíaco.” 
 
Para o compositor a música “torna-se hoje imprescindível à vida do individuo, propagando o seu efeito como estímulo psicológico e emocional, cognitivo e até mesmo de padrões comportamentais. Os seus efeitos variam consoante o seu individuo, a música e a sociedade foram evoluindo de par e passo, lado a lado.” 
 
Este livro, para o autor, “não é um sonho que se torna realidade, nem um projeto pré-concebido, é uma obra do acaso que foi ganhando forma até chegar à ousadia de se constituir em livro, é uma ocupação de tempos livres. Este projeto nasceu há 12 anos atrás.”
“O projeto também se insere no objetivo de preservação e conservação dos crioulos existentes em São Tomé e Príncipe, nesta caso no forro”, que Luís Viegas acha importante não só a sua conservação como também a sua difusão.
 
O momento musical ficou a cargo de Filipe Santo e um apontamento de dança de São Tomé por Pina Neto.
 
 
 
Biografia do autor:
 
Luís Guilherme D'Oliveira Viegas nasceu em 1967, em São Tomé e Príncipe. Fez o ensino primário e liceal em São Tomé. Iniciou a sua atividade profissional como professor de francês, área em que se formou pela Universidade Balise Pascal de Clermont-Ferrand, França (Letras Modernas). 
Obteve o diploma de tradutor e intérprete de Conferência pela INA - Instituto Nacional de Administração de Portugal - e graduou-se em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, em Brasília, Brasil. Diplomata de carreira, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de São Tomé e Príncipe, onde ocupou vários cargos de direção. 
É Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de São Tomé e Príncipe em Portugal e Marrocos. É Representante Permanente deste país junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). 
Neste livro em que mostra parte do repertório musical das ilhas, responde à vontade de partilhar com o público a sua paixão pelas línguas nativas de São Tomé e Príncipe, em particular pelo crioulo "santomé".
 
 
Sinopse do livro:
 
Com a obra "Butá Kloson Ba Lônji" o autor debruça-se sobre o surgimento dos grupos musicais são-tomenses nos ano 60 do séc. XX, e traça as características das músicas tocadas nessa época, as quais são marcadamente de intervenção política como meio de sensibilizar o povo são-tomense para a luta de libertação do jugo colonial, por um lado, e, por outro, servindo de retrato das complexas teias de relacionamento social.
Tanto a mensagem política como o retrato da vivência social são musicados em língua nacional “Santomé” com recurso a metáforas de difícil interpretação, mesmo para muitos falantes nativos, e o autor procura traduzi-las com toda a fidelidade semântica para a Língua Portuguesa com vista a uma maior compreensão da sociedade são-tomense da época. A densidade metafórica utilizada nas mensagens de cariz político na época era um meio de escapar à censura.