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Faleceu Carmen Pereira a mulher de todas as frentes
Guiné-Bissau
| Bissau
Publicado em 10-06-2016
Carmen Maria de Araújo Pereira, Tchutché, como era conhecida na sua casa em Bissau, faleceu no dia 3 de junho. A UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa) apresenta as mais sentidas condolências à família e ao povo da Guiné Bissau, pela morte de uma das poucas mulheres guineenses que estiveram a lutar na frente de combate.
Carmen Pereira nasceu a 22 de setembro de 1936. De forte personalidade, guerrilheira, mãe, enfermeira, companheira de armas e de política, bem como mulher que entra para a história de África como a primeira, no continente, a assumir o cargo de Presidente de um país, embora efémero, serviu para assegurar o seu lugar no lado certo da história.
Carmen Pereira, ou Tia Carmen, como passou a ser conhecida na luta armada, foi das poucas mulheres que estiveram na frente de libertação dos povos africanos. Chegou para se juntar ao marido, mas acabou por ficar ao lado dos irmãos Cabral - Amílcar e Luís - dando mostras da sua combatividade. Tornou-se, assim, uma peça-chave na luta pela libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Decida a juntar-se à luta armada, parte para Dakar à procura do marido onde o encontra doente. Assim, que o seu estado melhora partem os dois para Ziguinchor, no Senegal, onde estavam sediados os camaradas do PAIGC.
Em dezembro de 1964, e devido à sua boa reputação que se consolidou no trabalho desenvolvido dentro do partido, Amílcar Cabral, chamou-a para a Guiné Conakri para chefiar um lar onde eram evacuados alguns camaradas doentes e alguns feridos. Num grupo de 10 camaradas, chefiados pelo Comandante Pedro Pires, partiram para a União Soviética para fazerem um curso de política. Curso este, que lhes delineou todo o seu percurso político. Pedro Pires viria a ser Presidente de Cabo Verde, Carmen, como presidente da Assembleia Nacional, viria a ter idênticas funções na Guiné-Bissau, embora por um período curto de três dias. Assumiu, também, os cargos de presidente do Parlamento de Cabo verde e da Guiné-Bissau, de 1975 a 1980, mais tarde só da Guiné- Bissau, quando os dois países de dividiram. Foi, ainda ministra e membro do Conselho de Estado.
Em 1967, a guerrilheira é chamada para assumir o cargo de comissária política e responsável da pasta da saúde sob o comando de Nino Vieira. E é nestas condições que, entre 1968 e 1969, foram criadas, por ela, as Brigadas Políticas e as Brigadas de Saúde com o objetivo de estarem sempre presentes para quando houvesse alguns ataques por parte do PAIGC.
A sua fama de líder propaga-se e chega até ao conhecimento de António Spínola, que tenta travá-la, durante uma reunião de mobilização, mas sem sucesso.