Assinala-se no dia 25 de maio, o Dia de África. O Secretário-geral da UCCLA, Vitor Ramalho, elaborou um texto de saudação pela importante data.
Saudação pelo Dia de África
A UCCLA não poderia no dia 25 de maio deixar passar em claro o Dia de África.
É que foi nesta data que, na capital da Etiópia, em 1962, que foi fundada a Organização de Unidade Africana (OUA), hoje denominada União Africana (UA).
Ao ter presente a efeméride é útil precisarmos que ao tempo da fundação da OUA muitos povos de vários territórios de África continuavam sob o jugo colonial e que discriminação racial era uma realidade na África do Sul, governada por um regime racista.
Os representantes dos países presentes no ato fundacional da OUA fizeram convergir esforços para que os princípios constantes da Carta da ONU, particularmente o artigo 78.º fosse integralmente cumprido.
Decorre dele o direito inalienável dos povos à autodeterminação e à independência tal como decorre da Declaração Universal dos Direitos do Humanos, que todas as pessoas nascem iguais em direitos e que a discriminação em função da raça é inaceitável.
Desde a fundação da OUA até aos nossos dias, o continente africano testemunhou as profundas alterações que ocorreram, tal como defenderam os seus fundadores, com a libertação dos territórios que ainda persistem sob o domínio colonial e com desmantelamento do apartheid.
Em 1962 o mundo encontrava-se, porém, bipolarizado, existindo duas superpotências à escala planetária, cada uma com objetivos hegemónicos e muitos dos conflitos, inclusive armados, alguns de grande dimensão, que se desenvolveram em África, resultaram do confronto entre essas superpotências, por interpostos agentes,
Esse mundo bipolar já não existe mais, por efeito da implosão de uma dessas superpotências, a URSS.
Isso não significou, porém, apesar das esperanças reabertas que após a implosão da URSS e dos países do bloco de leste, sinalizada na queda do muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, que a paz se instaurasse em todos os países do continente africano, berço da humanidade.
Vertiginosas transformações ocorreram entretanto, desde logo do ponto de vista tecnológico, simplificando e facilitando as comunicações pelo recurso à via digital, tornando o mundo cada vez mais um só, com tudo mais próximo e nada do que se passa nos é hoje indiferente.
Aceleraram-se as trocas comerciais, tendo por base a criação da Organização Mundial de Comércio, reforçaram-se os espaços supranacionais e regionais em todos os continentes e a circulação de pessoas e bens acelerou-se de forma exponencial.
Assim se chegou a um mundo multipolar, com novos países emergentes a terem crescente protagonismo.
Dois factos recentes, ambos inesperados, resultado de causas da natureza, a pandemia da Covid-19, e outro por ação humana, a guerra que se desenvolve na Ucrânia, ambas com impacte mundial, puseram a nu uma nova realidade, agravando a incerteza no futuro e o eventual surgimento de um novo quadro geoestratégico mundial, com contornos ainda indefinidos.
O que se sabe, à vista desarmada, é que estes dois acontecimentos fizeram abrandar a economia mundial, agravaram desigualdades e geraram a subida de preços, inclusive de bens essenciais, como os alimentares.
Sendo esta a realidade, neste dia de esperança no futuro, que é o Dia de África, o continente africano e com ele os povos e países que dele fazem parte, são uma componente muito importante da recriação dessa esperança para toda a humanidade.
Desde logo porque é um continente muito jovem e a juventude é a garantia do futuro.
Por outro lado porque tem condições ímpares para criar sinergias e concentrar esforços para um efetivo desenvolvimento humano.
A esmagadora maioria dos países africanos faz fronteira com o mar, com a sua enorme riqueza, desde logo a piscícola, e em toda a área subsariana a terra arável tem uma percentagem muito significativa para conduzir à autossustentabilidade do continente.
Os efeitos da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia, conduzem-nos em linha reta para o reconhecimento que a economia do futuro não pode descurar a autossustentabilidade dos povos e sendo esta uma prioridade, o continente tem condições de sobra para responder às necessidades dos seus povos.
E porque as tem, há que cuidar também como prioritários os domínios da saúde, porque a pandemia da Covid-19 fez evidenciar a existência de carências e para a educação, canalizando também investimentos que reforcem a capacitação dos mais jovens, pelo futuro.
Do que observo – e observo com satisfação – estes são os objetivos que os homens e mulheres que têm responsabilidades nos países e no continente africano têm vindo a defender.
Recolhendo os ensinamentos da História, porque não há futuro sem memória, mas também do tsunami que nos últimos dois anos atingiu o planeta terra, que é o único conhecido para nele vivermos.
Ao saudarmos o Dia de África, saudamos as entidades associadas e apoiantes da UCCLA, não duvidando que as lideranças africanas saberão, no período de incerteza do futuro, recriá-la, contribuindo para um maior e melhor desenvolvimento humano, com os olhos postos no futuro.
Vítor Ramalho
(Secretário-geral da UCCLA)
Nota: Fotografia Wikipédia