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Documentário “A Casa da Mensagem” apresentado na UCCLA
Publicado em 05-12-2017
O documentário “A Casa da Mensagem” sobre a Casa dos Estudantes do Império, da autoria de Margarida Mercês de Mello, foi apresentado na UCCLA, dia 4 de dezembro, num evento que contou com a presença de alguns antigos associados da casa, amigos, familiares, historiadores e jornalistas.
As intervenções de Vítor Ramalho, Secretário-Geral da UCCLA, de Teresa Paixão, diretora da RTP2, de Margarida Mercês de Mello, autora do documentário, e de Nicolau Santos antecederam o visionamento do documentário, com duração de 1h10.
Vitor Ramalho relembrou a edição dos 22 volumes da coleção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império, promovida pela UCCLA, em 2014 e 2015, assim como a edição das Antologias Poéticas de Angola e Moçambique e São Tomé e Príncipe, e a reedição da publicação “Mensagem”, assinalando o contributo de algumas pessoas para a sua concretização, como José Marquitos e Mário Ramires que “rapidamente abraçaram esta iniciativa”.
O Secretário-Geral assinalou as obras publicadas posteriormente, como do ”ex-ministro da Saúde de Moçambique, o Dr. Helder Martins” e de vários “documentários, de grande mérito, da Diana Andringa, do Rui Simões, em parte do Zezé Gamboa, de Angola, e agora este da Margarida Mercês de Mello”.
“Fiquei muito rendido à competência da Margarida sinceramente, à sua determinação, à sua dedicação, para além de pesquisar muito, foi a Moçambique entrevistar Joaquim Chissano, e tudo isto culminou num documentário de grande valor” finalizou.
Teresa Paixão confidenciou como surgiu a proposta da Margarida Mercês de Mello, para a elaboração de um documentário sobre a Casa dos Estudantes do Império, e da “grande satisfação pessoal e profissional” uma vez que pertence a uma família que “nos anos 50 e 60 teve interesses em África e, por isso, conheci o continente africano, como se diria agora, na ótica do colonizador”.
Relembrou as paisagens, as viagens, as pessoas, e por isso a “proposta da Margarida teve um efeito redentor. O embaraço que me causava, a memória de ter sido livre num país de terra oprimida, podia aliviar-se agora porque dirijo um canal de uma televisão pública, cujo contrato de concessão me obriga ao prazer de preservar a memória de lugares, tempos e pessoas, corajosas e inspiradoras, que lutaram pela dignidade dos seus povos”. “Devo a África a aprendizagem da valorização da diferença, da diversidade, do conhecimento que há um largo horizonte, do interesse por outros saberes, por outros sabores” segredou.
Finalizou agradecendo à Margarida pela “seriedade, persistência, dedicação com que trabalhou para este documentário”, um documento que “imortaliza uma geração, a qual muito admiramos e agradecemos, que não hesitou em lutar, arduamente, pelo direito mais legítimo e, por isso, o primeiro, da Declaração dos Direitos Humanos…. Obrigada Margarida!”.
Para Margarida Mercês de Mello este documentário pretende “preservar a memória, mas procurando evitar deturpações e reinterpretações, e com a urgência que a idade dos protagonistas ditava, convidei alguns para nos contarem, eles próprios, como foram esses tempos, entre 1944 e 1965”, é a “sua história, uma história que muito pouca gente conhece”.
A Casa dos Estudantes do Império, de acordo com a autora do documentário, foi o “germinar das independências aqui em Portugal, na Avenida Duque de Ávila, n.º 23, uma casa onde houve bailes muito famosos e concorridos, em que o Hino Nacional, entre aspas, era o merengue, onde se namorou muito, onde se deu a conhecer poetas como Craveirinha e Luandino, onde se conspirou nas barbas da Pide e onde, também, se sofreu apesar da alegria e da exuberância que distinguia os jovens ultramarinos da comunidade metropolitana, mais cinzenta e mais recatada. Tudo isso evoluiu numa amizade inquebrantável que os ligou, também, a Portugal e tudo isso marcou, indelevelmente, as pessoas que vieram a ser”, como líderes da libertação e governantes.
Sobre o título do documentário, Margarida referiu que foi “roubado” ao título “Mensagem”, uma das publicações existentes na casa. A autora confessou, ainda, ter duas “frustrações” que tinham a ver com o não “poder ouvir todas as pessoas, com imensas qualidades e imenso para contar” e a segunda residia no “material interessantíssimo” que dispunha e não poder disponibilizar na sua totalidade, uma vez que o documentário teria que ter 1 hora.
Nicolau Santos agradeceu a “enorme generosidade da Margarida Mercês de Mello” e que foi com alegria que a viu “empenhar-se neste projeto, fazer este projeto e provar que a RTP tem enormes profissionais, de enorme competência”.
Este trabalho da Margarida “faz-nos lembrar o regime de Salazar e Caetano que queria evitar que em Angola nascesse uma elite que tivesse acesso às universidades e o risco de se criar alguma elite com ideias revolucionárias que pudesse, de algum modo, influenciar os destinos dessas colónias” que se tornaram países independentes. Para Nicolau Santos “houve a brilhante ideia de os juntar todos, em Portugal, na Casa dos Estudantes do Império”, acrescentando que o que não conseguiram nas ex-colónias conseguiram em Portugal, ou seja “juntar alguns dos mais importantes dirigentes de libertação dos países africanos, levá-los a compartilhar experiências, a trocar informações, a criar redes de contatos e a poderem precisamente, no centro do império na altura, lançar-se na grande aventura de tornar os seus países independentes”.
O relato na primeira pessoa de muitos dos que frequentaram a casa faz de “A Casa da Mensagem” um documento histórico e de memórias. Da autoria de Margarida Mercês de Mello, com produção de Gertrudes Marçal e realização de Rafael Abalada Matos, conta com a participação de Adriano Moreira, Alberto João Jardim, Fernando Mourão (entretanto desaparecido), Fernando França Van-Dúnem, Fernando Vaz, Hélder Martins, João Cravinho, Joaquim Chissano, Lilica Boal, Luís Cília, Magui Leite Velho Mendo, Manuel Boal, Manuel Videira, Mário Machungo, Miguel Trovoada, Moacyr Rodrigues, Óscar Monteiro, Pedro Pires, Pepetela, Raúl Vaz Bernardo e Ruy Mingas.
O documentário tem estreia no dia 7 de dezembro, na RTP2, pelas 23 horas.