Conferência de imprensa sobre a importância da Casa dos Estudantes do Império
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Conferência de imprensa sobre a importância da Casa dos Estudantes do Império
Publicado em 26-05-2015

Decorreu, dia 25 de maio, uma conferência de imprensa sobre a importância da Casa dos Estudantes do Império (CEI) - coordenada pelo Secretário-Geral da UCCLA, Vitor Ramalho - com os antigos associados da Casa que exerceram funções de Presidente da República ou Primeiro-Ministro: Fernando França Van Dúnem (Angola), Jorge Sampaio (Portugal), Mário Machungo (Moçambique), Pascoal Mocumbi (Moçambique) e Pedro Pires (Cabo Verde), na Fundação Calouste Gulbenkian.

Estiverem, também, presentes os presidentes dos Municípios de Maputo, David Simango (que é, também, presidente da Comissão Executiva da UCCLA), Cazenga, Vitor Nataniel Narciso, e Nampula, Mahamudo Amurane.

 


O Secretário-Geral relembrou a coincidência de se assinalar os 40 anos das Independências dos Países Africanos Lusófonos, dos 50 anos da abertura da Casa dos Estudantes do Império, e dos 30 anos da UCCLA. Vitor Ramalho falou da homenagem à CEI que a UCCLA tem desenvolvido, desde outubro de 2014, em Coimbra, até aos dias de hoje.

Para Mário Machungo, esta iniciativa é muito importante como testemunho para as novas gerações de forma a terem conhecimento que “a juventude da geração de 50 e 60 se entregou pelas causas da libertação nacional”. Afirmou que chegou a Lisboa em finais de 59, pouco tempo antes de Pascoal Mocumbi e Joaquim Chissano. Em 61 esteve na CEI, contando alguns episódios ocorridos e as experiências por que passou.

Machungo relembrou o sofrimento dos povos colonizados e da discriminação racial existente em Moçambique, reforçando que são “experiências que têm que ser transmitidas pelo combate que passamos pela libertação dos nossos povos”, acrescentando que “foram as experiências diferentes que nos uniram na Casa”.

 


Pascoal Mocumbi relembrou as manifestações que tiveram lugar na altura e como a CEI permitiu dar continuidade à relação entre todos.

Vindo da Faculdade de Direito de Coimbra para Lisboa, em novembro de 57, França Van Dúnem recordou que a CEI “foi um local não só de convívio, mas onde podíamos almoçar e jantar a um preço simpático”. A oportunidade de se conhecerem todos, a cumplicidade e a fuga foram relembrados.

Pedro Pires saudou os “companheiros da saga da libertação dos nossos países”, manifestando o reconhecimento e satisfação pela realização desta homenagem à CEI. Em Lisboa, os seus primeiros contatos foram com os membros da comunidade cabo-verdiana e só, posteriormente, teve contacto com a CEI através de uns companheiros que conheceu enquanto Aspirante Oficial Miliciante, no Serviço Militar Obrigatório. Para um cabo-verdiano a CEI era “um sítio onde estavam os representantes de todas as colónias, portanto foi uma oportunidade de me relacionar com os jovens, com os estudantes das antigas colónias de Angola, Guiné, Moçambique e São Tomé”, confidenciando que foi “uma altura de aprendizagem, aprendi muito com os outros sobre a situação nos respetivos países e foi, também, a possibilidade que representou na minha própria consciência anticolonialista”. Para Pedro Pires, a CEI constituiu um “espaço de convívio, de consciencialização, mas, ao mesmo tempo, de criação de relações, relações políticas, de solidariedade, de cumplicidade e, também, de idealizar o reforço dos nossos ideais”.

Relembrando a luta armada de libertação de Angola, em 61, Pedro Pires afirmou que esse marco permitiu o “reforço da nossa consciência e o reforço da nossa intervenção mais direta nesse processo de libertação”, e a “CEI desempenhou esse papel de agregação da juventude estudantil da altura”, reforçando os laços de amizade e solidariedade que se mantém até aos dias de hoje, uma vez que “construímos isso na CEI, aventuras comuns e percursos comuns”.

Reiterando o reconhecimento da UCCLA por promover a iniciativa, Pedro Pires agradeceu ao Secretário-Geral o esforço e empenho dado para que a homenagem se realizasse. Saudou o Dia de África e os africanos e convidou todos os africanos a continuarem a luta. Finalizou dizendo que “sem memória, o futuro não tem sentido e compete-nos transmitir a nossa vivência, a nossa memória”.

Jorge Sampaio recordou as “sessões musicais” realizadas na Casa, e as culturas e músicas diferentes que teve conhecimento, ao longo dos anos. Afirmou que “a CEI foi criada pelo regime anterior com o propósito de enquadrar e permitir intercâmbios vários”, foi dirigente associativo em 60, e relembrou as mudanças de regime ocorridas em Portugal, em 74 – esteve presente em vários momentos de mudança.

Relembrou a criação da UCCLA, pelo Eng.º Abecasis e da sua visão, e do trabalho desenvolvido ao longo dos 30 anos. Afirmando que “a história não se apaga” e que as marcas de uma guerra deixam cicatrizes profundas, “é possível suplantar as coisas do passado, mais ou menos terríveis, pois houve vítimas e sofrimentos”, mas toda a história possibilitou a aproximação entre todos.


Antes da Conferência o Secretário-Geral deu nota da peça criada pela Vista Alegre que assinala os 30 anos da UCCLA. A peça, uma jarra, da autoria do arista Roberto Chichorro e evoca as raízes e a moçambicanidade do autor. Na peça “Pastoral” retrata-se o “encantamento das lembranças e brincadeiras de infância e os animais míticos das tradições, em cores e traços quentes que afirmam uma memória e uma cultura”.

 

 

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