Lançamento livro Autopsia de João Nuno Azambuja

Lançamento do livro "Autópsia" de João Nuno Azambuja na UCCLA

“Autópsia”, o romance da catástrofe anunciada, conta-nos o que vai ser o mundo num futuro que pode não estar distante, é o mais recente livro de João Nuno Azambuja - vencedor da primeira edição do Prémio Literário UCCLA - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa -, apresentado no auditório da UCCLA, no dia 18 de setembro.
 
Na impossibilidade de estar presente o Secretário-Geral da UCCLA, Vitor Ramalho, deixou uma mensagem que poderá ser lida aqui.  
 
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Para o editor Manuel Fonseca, da Guerra e Paz Editores, “Autópsia” é um romance que “faz, de nós, espectadores do estertor de um mundo após essa catástrofe que já fascina a humanidade desde o começo do mundo, na verdade. Seja na forma de apocalipse, seja na forma de dilúvio”. 
 
Destacando a existência do Prémio Literário UCCLA, Manuel Fonseca louvou “o esforço idealista desta instituição, a sua capacidade para juntar júris que representam diferentes povos e que habitam e povoam a língua portuguesa, dando-lhe a variedade que é, na verdade, a maior riqueza da nossa língua”.
 
Terminou agradecendo a João Nuno Azambuja ter oferecido “a mim, e à Guerra e Paz, dois belos livros de narrativa viva, corrida, fluente, com dramas que lidam com a realidade e a convertem noutra coisa, como o romance deve sempre fazer. Essa outra coisa, que a todos nós nos empolga e que é a criação de mundos e personagens imaginários, sem os quais, as nossas vidas pobrezinhas seriam mesmo muito mais pobres. Meu Caro Nuno Azambuja, esta sua Autópsia, deu-me momentos de puro prazer. Mergulha-nos na catástrofe e no pesadelo, de um mundo destruído, em que já poucas pedras há sobre as outras pedras. Mas as suas personagens guardam, intactas, as nossas melhores virtudes e, também, os nossos piores defeitos. A nossa humaníssima bondade e a nossa mais cruel e vil vontade.”
 
O livro, apresentado por Rui Lourido, coordenador cultural da UCCLA, demonstra, à semelhança dos livros anteriores, o “fascínio do autor por relatar e por anunciar situações de premência social com que se confrontam as nossas sociedades, elegendo como figura, ou personagem central, um tipo de anti-herói, é esse o tipo que é a personagem principal deste livro”, acrescentando que o foco do livro é “duas ilhas que desconhecem a existência uma da outra, uma designada simplesmente terra e que seria uma parcela do que fora a Irlanda, que é descrita como um paraíso, sem pressão demográfica e que vive de forma sustentável. A outra ilha, denominada “Autópsia”, é claro o contraste com a primeira terra”.
 
O tema do livro refere Rui Lourido, é “claramente a denúncia das alterações climáticas, que têm vindo a provocar recentes cataclismos naturais. Bem como, a poluição dos oceanos, com as atuais ilhas de lixo que se deslocam nos oceanos e a contaminação da vida marinha, com pequeníssimas partículas perniciosas e que acabam por entrar na cadeia alimentar animal e humana, como as televisões nos dão a conhecer hoje em dia. O livro é uma denúncia à indiferença generalizada dos poderes instituídos, que objetivamente não colocam o combate, às alterações climáticas, como a prioridade central das suas agendas. Ao longo destas 237 páginas, o autor revela já uma assinalável maturidade estilística que lhe permite descrever toda a dor e desencanto, toda a ironia e vontade de viver, que a própria existência arrasta consigo”. 
 
Para João Nuno Azambuja o livro “Autópsia”, escrito “com uma grande força interior”, alerta que o “mundo dá avisos de que as coisas não podem continuar a ser como são, ou seja, nós temos de mudar o nosso comportamento. A terra fala, o planeta terra fala connosco. Dá-nos avisos, dá-nos conselhos e diz que nós temos de ver como é que nos estamos a comportar. E estes 11 milhões de pessoas, que vivem numa ilha do tamanho da Ilha de São Jorge, nos Açores, aproximadamente, 50 mil habitantes por km2, em que mal se podem mexer, continuam preocupadas com o seu quotidiano e a terra a falar, a dizer “vocês têm que mudar o vosso comportamento”. 
 
“Porque há duas ilhas que sobreviveram, a Irlanda, a ilha pura, o paraíso terrestre, uma espécie de ilha afortunada como São Brandão, reza a lenda, que o São Brandão foi em busca das ilhas afortunadas, umas ilhas mitológicas, fantasiosas que existiam lá onde ninguém sabia, atrás do nevoeiro, e essa é a Irlanda que restou. E depois, a ilha da corrupção, daquelas pessoas que se deixam esmagar e se deixam cercar por esta sociedade tecnológica, em vez de tentarem ser livres, essa é a ilha da Autópsia” destaca o autor.
 
Na contracapa do livro, José Ribeiro e Castro escreve «No tempo em que o mundo ficou reduzido a um destroço, nada é improvável. “Como se sabe onde fica o que não se conhece?” - Pergunta Brandão O’Neill, a cândida personagem. João Nuno Azambuja conta com imaginação fulgurante. Que narrativa fantástica!»
 
 
De referir que João Nuno Azambuja foi o primeiro vencedor do Prémio Literário UCCLA - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa com a obra “Era uma vez um Homem”, e que agora lança o seu terceiro livro. O segundo livro " Os Provocadores de Náufrágios" foi lançado em 2018.
 
 
 
Sinopse:
E se a catástrofe ambiental acontecer mesmo? Autópsia, o romance da catástrofe anunciada, conta-nos o que vai ser o mundo num futuro que pode não estar distante. O romance de João Nuno Azambuja é uma arrepiante distopia, retrato de uma humanidade náufraga.
De um gigantesco cataclismo resulta a submersão da maioria do solo terrestre e o globo volta a ser constituído por um enorme oceano pantalássico com raras ilhas à superfície.
Autópsia é a ilha que concentra em 220 km² os vícios e a perversão de 11 milhões de habitantes, uns desesperados face aos constantes aluimentos e a perspetiva de afundamento da ilha, outros alienados com os novos «ópios do povo».
Um dia, chega a Autópsia, vindo de uma outra ilha - feliz e estável -, um jovem estrangeiro que se fez ao mar para descobrir a origem da mensagem que encontrou numa garrafa.
Que novas tempestades vai ele desencadear?
 
 
Excerto:
«Há, de facto, marés sem fim, e o garoto ia maravilhando Joe com a sua inocência tão pura, tão feliz, tão plena. Alguém que chega inadvertidamente ao destino e não sabe que chegou ao destino. Alguém que chega ao fim e não quer terminar. Alguém que rejeita a morte por ter a alvorada diante dos olhos. Alguém que faz da vida um caminho infindo, onde a esperança é tão grande como o Universo, onde a vontade é tão forte como a luz do Sol, onde a existência é tão linda como a própria vida. Foi talvez neste momento, e graças a Brandão, que Joe percebeu que a vida é bela, e que só pode ser bela se se mantiver inocente. Poderia ele destruir o sonho do rapaz? Poderia permitir que se devastasse a sua terra no caso de Klein, Wagner, a população ou o governo conhecerem a localização da sua ilha, que deveria ser o encanto no estado puro? Qual o preço de uma salvação, ainda que a de um povo inteiro? Não, a perfeição não se compra, não se permuta, não se vende.»
 
 
 
 
 
Publicado em 20-09-2019