Encontro de Escritores de Língua Portuguesa

IV Encontro de Escritores de Língua Portuguesa
 

Os "Prazeres da Vida" foi o mote do IV Encontro de Escritores de Língua Portuguesa (EELP), promovido pela UCCLA, numa edição integrada no Festival Literário de Natal (organizado pela Prefeitura de Natal, Brasil), e que decorreu de 6 a 9 de novembro de 2013 – contribuindo, deste modo, para o diálogo e enriquecimento reciproco entre escritores do Rio Grande do Norte, com os do Brasil e com as diferentes literaturas de expressão em Língua Portuguesa.
 
O IV EELP, que decorreu dias 7 e 8 de novembro, teve como subtemas “A Literatura e o Humor”, “A Literatura e a Gastronomia” e “A Literatura e o Erotismo”.
 
O Prefeito de Natal, Carlos Eduardo, e o Secretário-Geral da UCCLA, Vitor Ramalho, marcaram presença no arranque deste grande evento cultural, numa tenda improvisada localizada em frente ao Teatro Alberto Maranhão. 
 
  
 
No dia 7 de novembro, começava mais uma edição deste encontro que reuniu cerca de vinte escritores, onde o prazer, literatura, humor, gastronomia, erotismo, lusofonia, música, cultura e muito mais foram os ingredientes que marcaram este encontro da língua portuguesa.
 
O cabo-verdiano Germano de Almeida abriu as hostes deste evento, sobre o tema “A Literatura e o Humor”. Com uma vasta obra publicada, falou dos três temas em debate, afirmando que “os três temas não formam mais do que um único e perfeito tema, pois se encontram ligados entre si”. “Os prazeres da mesa estão indissociavelmente associados aos da cama, basta ver a Bíblia ou o Kamasutra ”, onde o humor e o erotismo em Cabo-Verde, aliados à arte sensual da comida apimentaram os trabalhos logo no início do dia. Definiu o “bom humor” como “o maior encanto da vida”, reconhecendo que os cabo-verdianos são “abundantes em erotismo e humor, mas em termos de gastronomia somos fracos”. 
 
    

 
António Fonseca, de Angola, abordou o tema sobre “A Literatura e o Humor: reflexões sobre o caso angolano” e relativizou o humor como “algo que acaba por amenizar as agruras da vida”. Para o escritor a literatura de Angola, “que já incorpora momentos e episódios de humor, não é uma literatura humorística”. Deu alguns dos exemplos onde o humor ainda começa a dar os primeiros passos.
 
Ricardo Araújo Pereira, de Portugal e um dos mais destacados humoristas da atualidade, deu a conhecer as ideias base do tema “Educação para a Alegria” e começou por afirmar que o homem é várias coisas, parafraseando uma definição e ideia que identifica “o humor é a arma dos fracos. É verdade porque os fracos não têm acesso a armas mais eficazes. Mas também é a arma dos fortes”, dando exemplo do Museu do Holocausto, onde existe uma zona de caricaturas que os nazis faziam dos judeus. “Isto de estar vivo, ainda um dia acaba mal” um pensamento do escritor Manuel da Fonseca, frase introduzida que mobilizou a audiência. “O humor é uma fonte de prazer” e o “riso é um fenómeno que proporciona prazer”. Para o escritor é possível “falar de literatura e humor sem saber exatamente o que é humor ou literatura”. Ricardo Araújo Pereira falou de três teorias, a da superioridade (defendida por Aristóteles), da incongruência (defendida por Kant e Schopenhauer) e do alívio (defendida por Freud). Na primeira a capacidade de nos “rirmos de nós mesmos”, na segunda trata-se de uma vitória dos sentidos e na terceira o riso funciona para aliviar pressões e tensões sociais. Defende na teoria de Freud que o riso está intimamente ligado com a morte - aliás humor e morte foram os polos marcantes da sua intervenção -, pois segundo o filósofo “o mundo não é assim tão assustador. É apenas uma brincadeira de crianças com a qual vale a pena fazer uma piada”. Falou de São Lourenço e do seu papel. “O riso tem o poder de corroer o medo” finalizou.
 
  
 
 
Para Luís Carlos Patraquim (Moçambique), o tema em análise foi o “Desenrascar a Vida em Maputo”, para o qual “as palavras têm uma dança muito própria”. Para o escritor, o humor funciona como transformação do real quotidiano, revelando existir um humor popular nos moçambicanos, confessando que no teatro, no cinema, na música e dança o humor a e ironia estão bem presentes. “Os maputenses riem-se das próprias adversidades, o humor e a ironia estão presentes nas artes, mas é na rua que reina a inventabilidade”.
 
No que respeita à “Literatura e Gastronomia”, o tema foi debatido por escritores de Angola, Brasil e Portugal. 
 

 
Afonso Cruz (Portugal) o primeiro a abrir o debate, rapidamente surpreendeu os presentes quando deu a conhecer o ingrediente que tanto aprecia, a cerveja. Com o tema “Uma cerveja assíria, depois de adulta, é um poema”, o escritor afirmou que “sem cerveja não existiria literatura, nem livros, nem escritores, nem bibliotecas”, adiantando que “a cerveja foi o motivo pelo qual nos sedentarizámos”. “Qualquer livro que lemos é um subproduto da cevada. O homem parado pode escrever na vertical, com livros e cultura. A cerveja, depois de digerida, é um poema”, afirmou o vencedor do Prémio da União Europeia de Literatura 2012, com o seu livro "A Boneca de Kokoschka". 
 
  
 
 
Para John Bella (Angola) o tema de análise foi “Funji e poesia na tarde dos poetas angolanos”. Segundo o escritor, os novos intelectuais angolanos, como Agostinho Neto, António Jacinto, Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, pretendem saber mais sobre as suas origens, “gentes, línguas locais e sobretudo gastronomia”, dando a conhecer a descoberta de um alimento, o funji, tido como principal “alimento do povo Bantu”. A referência ao fuji remonta à década de 90, onde uma geração de autores criou o programa "Tarde dos Poetas" em que se juntavam e o lema era a leitura e declamação de poemas e poesia cantada, em que o funji era trazido pelas poetisas. 
 
Para José Carlos Vasconcelos (Portugal), com o tema “Comer, beber, escrever na literatura portuguesa”, os exemplos de autores, de textos e excertos sobre gastronomia não faltaram. Segundo o escritor, desde Gil Vicente há uma “assinalável presença da comida e da bebida na literatura portuguesa, além da referência a certos pratos, alimentos, frutos”, etc. Romanceando o tema, o escritor foi dando exemplos que se prolongam à atualidade, concluindo a intervenção com dois poemas inéditos do autor e poeta Vasco Graça Moura e Vinicius de Morais.
 
 
Fechou com chave de ouro mais uma edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, no qual apimentadas ideias debateram o tema final “A Literatura e o Erotismo”, num painel composto pelos escritores portugueses Mário Zambujal, João de Melo, Celina Veiga de Oliveira e Nuno Camarneiro e pela são-tomense Alice Goretti de Pina.
 
 
“Tema escorregadio e delicado” definiu Mário Zambujal no início da sua intervenção. Com ousadia e sem tabus, o escritor falou de um tema “quente” que agradou a audiência. “Erotismo é como o sexo, toda a gente tem um”. Relembrou o seu primeiro encontro com a literatura erótica, aos 13 anos de idade. Um pouco da história de Portugal, no sentido em que a prevaricação estimula o erotismo, da marca dos Avelares, Bocage e de Maria Teresa Horta escolhidos como exemplos de associação entre o sexo e o romance, entre a pornografia e o erotismo. “Em Portugal, embora o substantivo não seja alheio a volúpias sexuais, fala-se em pau pelos mais diferentes motivos… cara de pau, colher de pau, pau de bandeira, bandeira a meio pau, pagam-me seiscentos paus e é um pau, um pau para toda a obra”, terminando com o provérbio “enquanto o pau vai e vem folgam as costas”. Para Mário Zambujal “essa aprendizagem tranquila e lenta (do erotismo) faz-se descobrindo”, concluindo que “o erotismo é uma riqueza espiritual que só a espécie humana possui, mas também pode conduzir ao mais cruel sofrimento… é um pau de dois bicos”.
 
  
 
 
Celina Veiga de Oliveira discorreu sobre “O conto na obra de três escritores macaenses”, a sensibilidade e erotismo a oriente, dos poemas de Camilo Pessanha e dos trajes e costumes de Macau - Macau como um espaço de múltiplas e diversificadas gentes, tradições e crenças. Deolinda da Conceição, Maria Pacheco Borges e Henrique de Senna Fernandes foram três escritores macaenses que Celina Oliveira destacou por transportarem experiências e vidas singulares. Deolinda da Conceição valoriza a sensualidade e elegância feminina, descrita num livro sobre a cabaia, um traje de seda aberto de lado que modela a forma do corpo. Para Maria Pacheco Borges, o lado feminino e erótico expresso no seu livro “A Chinesinha”, onde a obediência, o sofrimento e o respeito pelas velhas tradições dos antepassados imperava. Henrique de Senna Fernandes, escritor que retratou o Macau antigo, teve outros temas como marca da sua escrita, a mulher e o amor. 
 
“Pequenos e grandes prazeres: O Corpo” foi o tema escolhido por João de Melo que, com metáforas e ousadia, confessou ter amado “literariamente gente inventada na criação da linguagem”. O escritor açoriano falou dos pequenos prazeres, como a “água que nos mata a sede, o vinho que nos anima, os elogios, a amizade, o amor familiar, os presentes amáveis” e os grandes prazeres a “glória da vida, o sexo e o amor, a boa mesa, a cama, as viagens, os prémios”. Entre uns e outros, existe a felicidade, confidenciando que “chamar a nós os pequenos prazeres e deixar que os grandes nos aconteçam por si”. Definiu o erotismo literário como uma “aventura de extremos”, revelando que a “literatura fez de mim um viajante, um inventor de intimidades, um sedutor”. “Os escritores não são mais que amantes platónicos fora de casa e o escritor homem precisa especializar-se no conhecimento do feminino, no seu mistério ardente, nas suas perversões”, acrescentando que “os maus escritores não sabem despir suavemente uma mulher, não beijam onde devem beijar”. Viajando pelo corpo, prazer, tentações, intimidade e desejo, falou-nos da perturbação e da paixão, ainda jovem, por uma senhora que lera num romance, “sonhos de adolescente” como o definiu. Relembrou a literatura erótica de Bocage, da perdição de Luísa no “Primo Basílio” do Eça de Queirós, do Casanova, Marquês de Sade, Jorge Amado e “A Casa dos Budas Ditosos” de João Ubaldo Ribeiro.
 
  
 
 
Para a são-tomense Alice Goretti Pina o “erotismo é tão natural como é a gastronomia e o humor” e relembrou a linha ténue entre o erotismo e a pornografia. Para a escritora do “Dia de São Lourenço” o erotismo está “muitas vezes em nós e na importância que lhe queremos dar”. Abordando o tema “Em Malanza”, Alice leu um texto da paixão entre Castela e Alécia, na vontade de se entregarem nos braços um do outro, na dificuldade do jovem em ganhar dinheiro e no desejo.
 
O painel do dia 8 de novembro, terminou com a intervenção de Nuno Camarneiro, um escritor formado em engenharia física e que ganhou o prémio LeYa, em 2013, com o romance “Debaixo de Algum Céu”. Com o tema “O lábio cego”, o escritor evocou Manuel de Barros, um “velho louco” como definiu. Para Nuno Camarneiro é difícil estabelecer uma fronteira entre erotismo e a pornografia, afirmando que provavelmente “erotismo é o que gostamos de ler em público e a pornografia o que gostamos de ler em privado”. Confidenciou a dificuldade em descrever o ato sexual, usando “terminologias científicas, como “falo, vagina, períneo ou metáforas como animoso ariete, vigínio botão?”, afirmando que “um ato sexual só é bem descrito se estivermos a falar de outras coisas”. Escrever o desejo é “preciso inventar um lábio cego e deixar a língua arder, talvez o erotismo seja o único sinónimo que a poesia aceita”. Relembrou a obra “A Casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro, como um livro com um “erotismo único, libertário e transgressor”.
 
 
O Secretário-Geral da UCCLA, Vitor Ramalho, encerrou mais uma edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa e agradeceu ao Prefeito de Natal o acolhimento deste grande encontro da língua portuguesa. Vitor Ramalho enalteceu o vasto conjunto de escritores que se deslocaram ao Brasil, a sua contribuição e enriquecimento para o Festival Literário.

 

 

 

III Encontro de Escritores de Língua Portuguesa

 


 

Decorreu de 15 a 17 de outubro de 2012, o III Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, na cidade de Natal, no Brasil. Este evento, organizado pela UCCLA, Prefeitura de Natal e com o apoio da Associação LisNatal, representou um sucesso nas palavras dos diferentes intervenientes, desde oradores, palestrantes e público em geral.

Segundo Inês Pedrosa "salas cheias de gente debatendo novas formas de entender as coisas". O Encontro de Escritores, que reúne nomes de reconhecimento regional, nacional e mundial nas áreas da literatura e da linguística, pretendeu promover o intercâmbio entre os escritores de língua portuguesa dos diferentes continentes. O resultado final foi muito positivo, com uma mão cheia de escritores de muitas escritas, mas com um ponto em comum - a mesma língua. 

Este Encontro decorreeu na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte (Brasil), no Teatro Alberto Maranhão, à semelhança dos anteriores.


O III Encontro de Escritores de Língua Portuguesa (EELP) centrou-se, como nos encontros anteriores, à volta de 3 temas. Este ano temas foram:
 

 15 de outubro16 de outubro17 de outubro
TemasLiteratura InfantojuvenilLiteratura e FutebolLiteratura Oral
    
ConferencistasIsabel Alçada e Ana Maria Magalhães (Portugal)

Roberto DaMatta
(Brasil)

Mia Couto (Moçambique)
    
PalestrantesBia Bedran
(Brasil)
Ondjaki
(Angola)
Ana Maria Cascudo
(Brasil)
 Leopoldo Amado
(Guiné-Bissau)
João Almeida Moreira (Portugal)Germano de Almeida
(Cabo Verde)



Decorrendo o Ano de Portugal no Brasil, e aproveitando o III Encontro de Escritores, o consulado de Portugal em Natal associou as duas iniciativas e promoveu uma palestra, integrada no Ano de Portugal no Brasil proferida pelo Professor Eduardo Lourenço, subordinada ao tema “Literatura e Lusofonia”, no dia 15, às 20 horas, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Igualmente decorreram duas jornadas gastronómicas: dia 15, no Real Clube do Bacalhau, e dia 18 no Hotel Pestana, com o chefe Paulo Matos.


 

PROGRAMAÇÃO OFICIAL


Segunda-feira, 15 de outubro

13h00-14h00 - Inscrições e entrega das pastas com os materiais e programas
14h00 - Solenidade de Abertura Oficial do Evento
14h30 - Tema “Literatura Infanto-Juvenil”
Conferencistas: Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães (Portugal)
Palestrantes: Leopoldo Amado (Guiné Bissau)
Outras Intervenções: Ana Pessoa (Portugal) e Junior Dalberto (Brasil)
Moderador: Juliano Freire (Brasil)


Atividades Associadas:
15h00 - Lançamento do livro “O Lobo Mau e o Caldeirão das Fábulas” do Escritor Genildo Mateus;
15h00 - Lançamento do livro “O Casamento do Sapo Serafim com a Borboleta Flor” de Celeste Borges;
18h00 - Abertura da Exposição “Brasil: Origens Futebol Arte” da artista plástica Ana Selma;
Local: Teatro Alberto Maranhão
(Ano de Portugal no Brasil)
19h45 - Conferência com Prof. Eduardo Lourenço (Portugal)
Auditório da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte


Terça-feira, 16 de outubro

14h00 - Tema “Literatura e Futebol”
Conferencista: Roberto Da Matta (Brasil)
Palestrantes: Ondjaki (Angola) e João Almeida Moreira (Portugal)
Outras Intervenções: Júlio Conrado (Portugal)
Moderador: Gerson de Castro (Brasil)


Atividades Associadas:
18h00 - Apresentação do espetáculo “Teia” com o Ballet da Cidade do Natal
Local: Teatro Alberto Maranhão
Palestra sobre “Novas literaturas de expressão portuguesa” com Ondjaki (Angola), Germano de Almeida (Cabo Verde) e Mia Couto (Moçambique)
Local: Livraria Saraiva (Midway Mall)
Horário: 19h às 21h


Quarta-feira, 17 de outubro

15h00 - Tema “Literatura Oral e Tradicional”
Conferencista: Mia Couto (Moçambique)
Palestrantes: Germano de Almeida (Cabo Verde) e Ana Maria Cascudo (Brasil)
Palestra especial de José Carlos de Vasconcelos em Homenagem ao Centenário de Jorge Amado

Atividades Associadas:
(Ano de Portugal no Brasil)
18h00 - Lançamentos de dois livros infantis de Ondjaki  e do livro “Luiz da Câmara Cascudo - Um Brasileiro Feliz em Cordel” de Vera Lúcia Barreto
18h30 - Apresentação do Folia de Rua em Homenagem ao Centenário de Jorge Amado;

Palestra sobre a obra de Fernando Pessoa - Com Inês Pedrosa (Presidente da Casa Fernando Pessoa - Lisboa)
Local: Universidade Potiguar - Campus Floriano Peixoto (Auditório 2)
Horário: 19h às 21h

Festa de Encerramento
21h30 - Show da cantora CAMILA MASISO e outras atrações
Local: Restaurante Casa do Matuto